

No dia 6 de junho de 2013, cerca de mil pessoas protestaram contra a alta da tarifa (R$ 0,20 a mais) dos transportes públicos na capital paulista. Em uma reação totalmente desproporcional ao estímulo, a polícia reagiu “aos costumes”, com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Foi o estopim para uma onda de gigantescas manifestações populares pelo Brasil afora, que deixaram aturdidos os analistas e acuaram os governos.
Em São Paulo, a ocupação de algumas escolas como protesto contra o projeto de remanejamento dos alunos da rede pública estadual e o bloqueio de ruas/avenidas também surpreenderam. É claro que a reação dos estudantes paulistanos não teve, nem de longe, a dimensão das jornadas de junho de 2013. Foi menor, localizada e durou menos. Mas o efeito foi o mesmo: as autoridades foram obrigadas a voltar atrás.
A atuação do governo de São Paulo no episódio se inscreverá, por certo, nos manuais a serem escritos no futuro sobre as grandes trapalhadas político-administrativas. Na base da canetada, tentou-se uma reformulação educacional que trazia grandes conseqüências para os alunos, os pais e os professores. Moral da história: sem saber direito o que estava acontecendo, a opinião pública ficou contra.
O resultado foi catastrófico. Pesquisa realizada pelo Datafolha no final de novembro de 2015 indicava que 61% dos paulistas se posicionavam contra a iniciativa do governo, 55% eram a favor da ocupação das escolas públicas e nada menos do que 83% disseram que as informações fornecidas pelo governo continham dados que só interessavam a ele próprio. A Secretaria queria uma reformulação que, segundo a maioria dos especialistas, era interessante para a educação; a sociedade só entendeu que escolas seriam desativadas.
O governo tentou reagir colocando uma enorme matéria paga em revista semanal (quantos teriam lido aquela monumental carga de dados e argumentos, é o caso de perguntar) e comerciais na TV. Mas era tarde. Os alunos já haviam ocupado as escolas e ganharam visibilidade, com direito à truculência policial, bloqueando o trânsito de vias importantes da capital. O resultado foi um espaço excepcional em todas as mídias todos os dias. Os alunos deram uma verdadeira aula de como um pequeno grupo mais ou menos organizado é capaz de vencer uma batalha indigesta contra a Polícia e o governo do Estado mais poderosos da Federação.