

O Brasil está inovando. A Prefeitura de um município de Minas Gerais devolveu os documentos que enviei porque minha assinatura estava autenticada. Eles disseram que precisavam da assinatura “sem” autenticação.
Fui comprar um aparelho Apple TV e queria renovar meu cartão de descontos da loja. A moça do balcão me pede um documento com foto. Entrego minha carteira de habilitação. Ela, então, pega o telefone e me coloca para falar com um atendente do Call Center.
Ele me pergunta o número de minha carteira de habilitação, que está nas mãos da moça. Pede minha filiação e pergunta onde moro (detalhe: eles já sabiam). Preciso pagar uma taxa de R$ 20,00 e o caixa está ao lado. Mas ele me diz que mandarão um boleto para minha casa, eu espero chegar o boleto, pago no banco e, com o boleto autenticado, devo ir novamente à loja e renovar meu cartão de descontos. Gênio!
Minha mãe, de 85 anos, era cliente da Unimed Paulistana, que faliu, apesar de toda a “vigilância” e exigências do Estado onipresente. Propôs-se, então, que houvesse portabilidade para a Unimed FESP.
Quando caí no mundo real, percebi que não era portabilidade e sim um recadastramento em condições totalmente diferentes. Precisava de um monte documentos: carteira do SUS, RG original e cópia (!), CPF original e cópia (!), contrato, comprovantes de pagamento e de residência. Tudo isso a Unimed Paulistana já tinha.
Havia um serviço de 0-800 (“podemos estar ajudando?”) para “desorientar” os clientes. Pois bem: a Unimed FESP teve a brilhante ideia de distribuir senhas: eram 350 para uma quarta-feira. Mas, pasme, os números da senha – a minha era 155 – nada tinham a ver com a ordem do atendimento. Quem chegava mais cedo, era atendido mais cedo. Meu emissário levou oito horas para ser atendido. Um espetáculo.
Mas não acabou. Ao invés de mandarem a carteirinha nova pelo correio, nós paspalhos fomos obrigados a buscá-la no local onde foi feito o recadastramento. E tome fila. Isso porque pediram o comprovante de residência …
Peguei um táxi e, conversa vai conversa vem, o motorista me disse que a Prefeitura exige um guia de ruas atualizado no carro – aqueles que parecem listas telefônicas – sob pena de não renovação da licença. No console do veículo, uma voz macia informava, através do Waze, o caminho a seguir. Neste ano todos os motoristas comprarão o Guia 2016.
São Paulo já teve o “Sindicato Oficial dos Ônibus Clandestinos”. Para certas transações, exige-se certidão de óbito atualizada. Vá comprar remédios na farmácia com receita (em duas vias): é preciso preencher ficha, CRM do médico, às vezes a nota fiscal é separada e o CPF que você diz no balcão tem que ser repetido no caixa. É o fim da picada!
Apesar do esforço descomunal de Guilherme Afif, um militante da simplicidade, o cerco está se fechando. A burocracia não está só no Estado. Ela impregnou a sociedade. A ordem é complicar, dificultar, criar obstáculos. Ao invés de combater a burocracia com a informatização, informatizaram a burocracia. Babau! Um dia ainda teremos que tirar alvará nos Cartórios para beijar nossos filhos.