

A reforma da Previdência esteve durante muito tempo no topo da agenda política nacional. Era vista como algo inatingível, uma iniciativa espúria a serviço de interesses inconfessáveis que retiraria direito dos trabalhadores. Não tinha a simpatia da classe política, pesquisas mostravam a desaprovação da opinião pública e sofria uma oposição sem tréguas dos setores corporativos organizados em torno da defesa de seus privilégios.
Aos poucos, a discussão avançou, a classe política tomou consciência de que o modelo adotado era insustentável e a sociedade comprou a ideia de que a reforma era inadiável. As corporações continuaram esperneando, mas já era tarde para reverter a tendência. A racionalidade venceu e o Congresso Nacional demonstrou seu compromisso com o País, agindo com maturidade, responsabilidade e coerência.
Recentemente, o ministro Paulo Guedes chamou os funcionários públicos de parasitas que acabarão por matar o Estado, seu hospedeiro. Não são termos, digamos, muito suaves – e, em época de polarização, transforma-se num excelente assunto para as mídias e as redes sociais alimentarem a polêmica. O estilo do ministro é de um zagueiro central de time de várzea – daqueles que chutam a bola e o joelho do adversário, muitas vezes não nessa ordem – , mas a questão que ele coloca é da maior relevância. Ele teria exagerado?
Uma sucessão de notícias e “descobertas” comprova a necessidade premente de uma reforma administrativa. O Estado brasileiro é uma usina eficientíssima no ofício de produzir injustiças, um poço artesiano de onde jorra irracionalidade aos borbotões. O Poder Executivo paga pensão para nada menos do que 52 mil filhas solteiras de ex-servidores. Uma pensionista, inclusive, coitada, recebeu a bagatela de R$ 233 mil em novembro de 2019. Filhas solteiras de ex-servidores do Legislativo e de ex-integrantes das Forças Armadas também recebem pensões. É um saco sem fundo.
Uma matéria recente da Folha de S. Paulo trouxe a informação de que o INSS tem um atendente para cada 3.100 segurados , enquanto a área de Recursos Humanos do governo tem um para cada 40. Temos um serviço público mequetrefe para a choldra e outro VIP para os magnatas que recebem seus salários dos impostos pagos pela ralé. Resultado: a aposentadoria sai em 15 dias no serviço público, enquanto os pobres mortais do setor privado esperam 125 dias. A fila, hoje, para quem ralou sem estabilidade e paridade é de 1,2 milhão de pessoas.
Estudo do Banco Mundial, divulgado o ano passado, mostra que a situação estrutural da nossa administração pública é catastrófica. Entre 2007 e 2017, a irresponsabilidade petista fez com que os gastos com servidores públicos aumentassem 48% em termos reais. A discrepância de ganhos é estapafúrdia: os servidores públicos federais tinham, em 2017, salários 96% maiores do que os trabalhadores do setor privado.
Em 2018, o Estado brasileiro gastou cerca de 10% do PIB em salários e vencimentos de servidores públicos. O gasto com pessoal é muito alto, a despeito do número modesto de funcionários públicos como proporção do total do emprego assalariado: algo em torno de 18%. A relação número de funcionários públicos/população no Brasil é de 5,6% , mais alta do que os países sul-americanos (4,4%). Olhando todos esses absurdos e aberrações, é de se perguntar se o ministro Paulo Guedes não teria sido muito comedido nas suas declarações…