

No início de março de 2018 participei de uma reunião do Conselho de Economia, Sociologia e Política da Fecomércio, em São Paulo. No encontro, foram discutidos basicamente assuntos referentes à atividade econômica e o quadro político, com ênfase na sucessão presidencial. Especialistas analisaram o desempenho de alguns setores da economia, mostrando a retomada do crescimento e apresentando números que me levaram a um estado de relativo otimismo e bom humor.
Uma das boas notícias foi que, depois de acumular uma queda superior a 16% em três anos (2014, 2015 e 2016), a produção industrial de 2017 mostrou um crescimento de 2,5% em relação ao ano anterior. Mas a crise foi forte e profunda: o nível de utilização da capacidade instalada está 10% abaixo daquela que se observava em 2011 e nosso patamar atual de produção está no nível de 2009. Outro dado alvissareiro foi a expansão vigorosa da produção de automóveis, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas. O desempenho de cada um desses itens pode ser conferido na tabela abaixo.

No comércio, as novidades também são animadoras. No quarto trimestre de 2015, o PIB do setor havia diminuído 5,6% e o consumo das famílias tinha apresentado uma queda de 6,1% sobre o trimestre anterior. Apenas dois anos depois, no quarto trimestre de 2017, esses números eram de crescimento: 2,1% no PIB e 2,6 no consumo das famílias. O volume de vendas no comércio foi negativo, 8,6% em 2015 sobre 2014, e igualmente negativo, 8,7% em 2016 sobre 2015. Em 2017, houve um crescimento de 4% sobre 2016. O saldo abertura/fechamento de estabelecimentos comerciais, que dá bem uma ideia da dimensão de nossa recessão, está na tabela abaixo. Ainda que seja possível notar uma evolução favorável nos indicadores, o fato é que, apesar da movimentação positiva da economia, em 2017 o saldo final continuou negativo, ainda que em patamar muito menos elevado.

A economia real, portanto, vai reagindo. Nesta mesma reunião da Fecomércio, alguns dados mostravam que o desempenho do Estado tem muitas limitações: economistas chamaram a atenção para o fato de que o gasto público representa no Brasil, hoje, algo em torno de 43% do PIB, enquanto a média dos emergentes é 31%. Nossa dívida pública já alcançou escandalosos 80% do PIB. Numa amostra de 144 países, o Fórum Econômico Mundial ranqueou o setor público brasileiro num humilhante 136º posto. O setor privado pelo menos se posicionou, com mais galhardia, no 36º lugar. Nos anos 1970, o País investia 5,4% do PIB em infraestrutura. Hoje, mal chega a 1,5%. A média de investimento dos emergentes é 5,4% e a média mundial é 5,8%. Estamos ficando rapidamente para trás.
Duas semanas depois dessa reunião na Fecomércio, participei de um outro encontro na Fundação Espaço Democrático. Nesta reunião, o palestrante foi o economista Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente do Senado Federal, que faz o acompanhamento das contas do governo. Se a economia real dá uma certa tranquilidade, os números do setor público são desanimadores, um verdadeiro estimulo ao uso do Stilnox, um conhecido e bastante utilizado indutor do sono.
Ficou claro, na excelente exposição de Felipe Salto, que não há caminho possível sem reformas estruturais. A combinação do teto de gastos com a Previdência deformada, que apresenta déficits sucessivos e crescentes, terá um efeito explosivo: cada vez sobrará menos recursos para a saúde, educação, segurança, investimentos. Até que não se tenha recurso nem para a Previdência nem para mais nada.
O que pensa a sociedade disso tudo? A julgar pelas pesquisas de intenção de voto, o cenário é pouco animador. Se Lula puder ser candidato, a soma dos votos de representantes que não se mostram muito compromissados com a disciplina fiscal – o próprio Lula, Marina, Ciro Gomes, PC do B e Boulos – chega a 48% em 80% de votos válidos, ou seja, 60% dos eleitores. Resta torcer para que os candidatos mais, digamos, responsáveis tenham talento e sorte para convencer um eleitorado desconfiado, descrente e que acabou de sair da maior recessão que o País conheceu de que é preciso fazer um esforço ainda maior para que o Brasil possa voltar aos trilhos e crescer para valer.