

As eleições municipais do ano que vem deverão acontecer em um contexto particularmente difícil para candidatos e eleitores. “No Brasil, até o passado é incerto”, disse certa vez o ex-ministro Pedro Malan. Imagine só o risco de tentar antecipar tendências. Mas é possível vislumbrar um quadro em 2016 no qual o eleitor estará muito mais insatisfeito, descrente e desconfiado do que esteve nos pleitos municipais anteriores. As famílias, de modo geral, estarão mais endividadas e em maior dificuldade econômica. Ganhando menos e, com crédito escasso e caro, consumindo menos.
Num momento de retração da economia, as Prefeituras terão ainda menos recursos para investir. O Índice de Confiança Social, pesquisa realizada anualmente pelo Ibope, mostra uma queda na confiança que os eleitores têm no “governo da cidade onde mora”: de 53% em 2009, atingiu 45% em 2012 e está em 33% em 2015. A desconfiança é maior na classe D/E, que mais necessita dos serviços públicos municipais. A confiança no sistema público de saúde, que é uma atribuição predominantemente local, caiu 8 pontos percentuais de 2012 para 2015. Para usar uma imagem popular, “o mar não estará para peixe”.
Pesquisas que avaliam a administração dos prefeitos apontam para índices bem mais modestos do que aqueles que se observavam em anos que precediam as eleições de 2008 e 2012. Na verdade, os movimentos de junho de 2013 arremessaram a avaliação dos governantes – nos âmbitos federal, estadual e municipal – para patamares bem inferiores. Quem acompanha pesquisas em municípios sabe que é raríssimo encontrar hoje em dia prefeitos que têm índices de avaliações positivas superiores a 30 % (considerando-se as alternativas “ótimo + bom”), algo bastante corriqueiro no passado recente.
Também aconteceram mudanças significativas na legislação eleitoral, que impactam sobremaneira a estratégia dos candidatos e delimitam com mais precisão a margem de manobra de cada um. A mais significativa delas foi a diminuição do tempo de campanha para apenas 45 dias (era 90). A propaganda de TV ficará mais curta: de 45 saltou para 35 dias. Além disso, a chamada comunicação visual foi bastante limitada: o tamanho das placas em bens particulares diminuiu de 4 m² para 0,50 m². Cavaletes e bonecos nas ruas estão vedados. Aquelas “enquetes” fajutas estão proibidas. Também foi estabelecido limites para contratação de pessoal.
Ou seja, tudo indica que teremos uma campanha “engessada”: pouco tempo e pouco dinheiro. Com uma opinião pública irritada, escaldada pela sucessão interminável de escândalos e, noves fora as manifestações de rua, anestesiada pela paralisia decisória, qual a possibilidade de ocorrerem grandes surpresas eleitorais ou mesmo as “viradas” mais surpreendentes? Alguém vai querer apostar numa novidade que se apresente como uma aventura? Os eleitores deverão escolher nomes mais conhecidos, tradicionais e com a imagem mais assentada na opinião pública. “Faça como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro leva o barco devagar”, como na música cantada por Paulinho da Viola.