

O Congresso Nacional está entre as instituições que apresentam uma das menores taxas de confiabilidade perante a opinião pública brasileira. Pesquisa realizada pelo Datafolha em junho de 2018 apontava que 68% dos brasileiros não confiam nos partidos políticos, 67% não confiam no Congresso e uma ínfima parcela de 3% confia muito no Legislativo Nacional.
A cobertura dos meios de comunicação também está longe de ser generosa em relação à casa dos deputados e senadores. No final de junho de 2019, o noticiário apontava que, em nove anos, a Câmara gastou R$ 1,25 bilhão com a aposentadoria de 508 deputados. As viagens dos parlamentares para destinos turísticos também são alvos constantes das pautas dos jornais e revistas. Isso para não falar nas mordomias, gastos nos gabinetes, carros oficiais etc. Essas denúncias de privilégio e mau uso do dinheiro público convivem com a economia estagnada e 13 milhões de desempregados.
Assunto desagradável é o que não falta. O Legislativo é visto como um local de discussões estéreis, onde se decide muito pouco. Nas televisões, o ambiente que se mostra é sempre tumultuado, uma polarização que não constrói, muitas vezes com parlamentares quase chegando à agressão física. Já assistimos cusparadas, trocas de insultos, bate-bocas com palavras de baixo calão, comentários deselegantes em relação a mulheres e homossexuais – e por aí vai.
Para completar, os episódios do Mensalão e da Lava Jato mostraram o que existe de pior na classe política. A exposição desses dois episódios, que monopolizaram a atenção da mídia por meses a fio, derrubou ainda mais os níveis de credibilidade das nossas casas de lei. Embora poucos parlamentares tenham sido efetivamente presos, no conjunto eles fizeram por merecer: estima-se que pelo menos um a cada três integrantes do Congresso Nacional responde a processo criminal na Justiça.
E não é que, com todo esse passivo, o Congresso Nacional está em vias de se tornar o grande protagonista da cena política brasileira? Essa ressurreição é fruto da ausência de um projeto estratégico do governo, da absoluta inexistência de um mínimo de articulação política e da necessidade urgente do Brasil realizar importantes e urgentes reformas, entre elas a da Previdência e a Tributária. O vácuo que se formou foi ocupado pelo Congresso, liderado por políticos que se tornaram poderosíssimos, pois fazem, ao mesmo tempo, a articulação partidária, o papel de líderes do governo e presidem a Câmara e o Senado.
Quem pensa o Brasil e projeta o futuro é, pois, a instância mais desgastada na opinião pública. Tanto o Executivo quanto o Poder Judiciário gozam de muito mais prestígio perante a sociedade. Formou-se a convicção de que o presidente da República cumpre uma pauta identificada com os segmentos que defendem temas mais restritos: armamentistas, antipetistas ferrenhos, motoristas de caminhão, militares, policiais militares, evangélicos. Neste contexto, pautas mais gerais, que dizem respeito aos cerca de 60% de eleitores que ostentam renda familiar mensal de até três salários-mínimos e estão mais interessados em emprego do que com o combate à homossexualidade, ficam sob comando do Congresso. Onde residia a mais absoluta desconfiança, agora viceja a esperança.
O governo fez uma aposta arriscadíssima: quis promover a reforma da Previdência jogando a sociedade contra o Congresso para ficar exclusivamente com os louros do ajuste fiscal e provável retomada do desenvolvimento. Agora, a pauta dos deputados e senadores, sob o comando de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre é muito mais extensa: propõe-se a reformar não só a Previdência, mas também o sistema tributário, o FGTS, dar autonomia ao Banco Central e diminuir os juros bancários, o que impactará fortemente no custo do crédito e deve estimular o consumo.