

É fato que a opinião pública nos expõe cada vez mais a cada vez mais informações de cada vez mais veículos. Jornais, rádios, rádios comunitárias, TVs, TVs a cabo, TVs na internet, mídia outdoor, indoor (nem mesmo no elevador se tem sossego). Além disso, as chamadas redes sociais nos bombardeiam com avisos de aniversários, eventos, fotos sobre o céu e o mar, pratos deliciosos que não temos como experimentar na hora, filhos sorridentes, meigos animais de estimação, o colega do pré-primário, um viral de algum talentoso contorcionista sul-coreano… Antes, você andava atrás da informação. Agora, a informação anda atrás de você.
No meio dessa extenuante tempestade informativa, que nos excita e nos acua, tomou corpo uma modalidade de compactação de dados extremamente confortável para quem quer conferir alguma ordem à compreensão do mundo: os rankings. Como é tranquilizador verificar um ranking: você sabe, na hora, quem é quem e o que está acontecendo em cada assunto. Ler um ranking dá confiança. A impressão que se tem é que você fica mais inteligente depois de analisar um ranking.
Por outro lado, ficou cada vez mais fácil fazer ranqueamento. Na era o “big data”, é possível saber quais foram os jogadores que mais torceram o tornozelo aos 42 minutos do segundo tempo no campeonato nacional do Paquistão. O ranking hoje em dia é tão endêmico como o “bom dia a todos” do facebook. Alguém já disse que a estatística é a capacidade de torturar os números até que eles confessem aquilo que você quer. Dependendo do critério, é possível ordenar os assuntos pesquisados da maneira que o pesquisador achar mais interessante. Ou mesmo analisar, para o mesmo sujeito, os diferentes temas de formas distintas, dependendo da escala de valores – outro “ranking” – do analista.
Vamos tomar como exemplo o Brasil. Somos a sétima ou oitava economia do mundo em termos de PIB. Um verdadeiro arraso, para usar uma linguagem festiva. A leitura desse número, nu e cru, aumenta a auto-estima e libera endorfina. Mas o PIB é bom quando se distribui. Aí, podemos verificar, na sequência, a “renda per capita”. A queda é vertiginosa: de oitavo lugar despencamos para o 54º. O que era motivo de orgulho já vira uma ponta de preocupação.
O que seria bom analisar, agora? IDH? Sim, o Índice de Desenvolvimento Humano, como se sabe, é historicamente o indicador sintético de maior sucesso no âmbito da mensuração da qualidade de vida. Plenamente estabelecido, é difícil de ser criticado: conjuga renda, educação e expectativa de vida. Nesta seara, caímos para de 54º para 85º do mundo. Opa! Mas tudo que está ruim, pode piorar: o problema do IDH é que leva em conta a renda per capita, mas não capta a desigualdade. Analisados sob este ângulo, pioramos muito: vamos para um incômodo, para não dizer humilhante, 146º lugar
O que é particularmente preocupante é que não estamos bem nos rankings que nos fariam subir em outros rankings. Isso não é de hoje. Ficaremos mais ricos e mais iguais, por exemplo, se tivermos uma boa infraestrutura. Um país com nosso potencial para o agronegócio deveria ter estradas, portos e aeroportos de boa qualidade. Mas amargamos um 71º posto nesta seara. Em produtividade, somos o 75º do mundo. Em facilidade para fazer negócios, somos o 116º. E em educação, não temos conseguido bons resultados nos exames PISA, ficando entre os piores países avaliados (é verdade que, neste caso, só são avaliados os países considerados mais desenvolvidos).
Temos uma democracia funcionando (estamos bem nesse ranking), um povo empreendedor (no Brasil, mais de 60% dos entrevistados querem ter seu próprio negócio), há pouco tempo éramos os mais otimistas do planeta (entre 158 países) e o 19º povo mais feliz do mundo. Somos ricos, desiguais, gostamos de empreender mas o Estado não deixa, vivemos com dificuldades, nossa vida é cara, mas somos otimistas e felizes. Como se vê, é número para todo gosto. Os rankings, com sua aparência simplificadora, podem, por vezes, mais confundir do que explicar.