‘Foi um junho que passou na minha vida’

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‘Foi um junho que passou na minha vida’

As manifestações de junho foram consideradas o ápice da cidadania, o cume da democracia, o esplendor da sociedade civil. O gigante acordara, era o mantra. As manifestações populares colocariam as instituições, que não davam respostas adequadas às demandas populares, nas cordas. O Congresso se transformaria num espelho, que refletiria o que o povo quer e pensa. O Executivo se pautaria por realizar dos desejos da cidadania.

Entrevistada pelo jornal The New York Times, uma manifestante, jovem, resumiu o espírito dos protestos: “Queremos tudo. E queremos agora”. O governo federal saiu para atender a demanda, de resto, impossível de ser suprida. Sugeriu plebiscito já e Constituinte Exclusiva para a reforma política. Anunciou pacotes a granel: para melhorar a mobilidade, saúde, educação…Prefeitos assustados cancelaram o reajuste das tarifas de ônibus e, em alguns casos, até abaixaram o preço das passagens. O Congresso vetou a PEC 37 e colocou a corrupção como crime hediondo.  Sociedade 1 x Instituições políticas 0.

Mas, aos poucos, as instituições foram para o ataque e equilibraram o jogo. Ao invés de hospitais padrão FIFA, médicos cubanos. O Congresso respondeu garantindo a condição de deputado para um presidiário. O Judiciário, contra todas as expectativas, aceitou os embargos infringentes e reabriu o caso mensalão. Não satisfeito, o sistema político achou por bem criar mais dois partidos. Agora, as instituições estão ganhando de goleada.

É evidente que não existe registro de movimentos com aquela magnitude e intensidade por muito tempo. Mas é incrível como, quatro meses depois, junho de 2013 parece ter acontecido na década passada. Visto em perspectiva, o movimento redentor das ruas transformou-se num bando de mascarados assustadores quebrando tudo o que vê pela frente. O que era reivindicação, tornou-se ódio.  Os cartazes foram substituídos por marretas. A presidente recupera sua aprovação e manda seus adversários “estudarem”.

No Brasil, temos a mania de achar que teremos “reformas revolucionárias”. Achamos que chegaremos ao desenvolvimento através dos “saltos triplos”, quando a história ensina que a caminhada é pé ante pé. A rua e os movimentos espetaculares podem ajudar, mas a “revolução” se faz no dia a dia, participando, criticando, propondo, votando bem. Não devemos nos iludir: a única maneira de se transformar as instituições que existem e nos incomodam é através das instituições que existem e nos incomodam.

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