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Acabou a mamata

Para o cientista político Rubens Figueiredo, o oposicionismo ao governo Lula parece ser mais visível, intenso e qualificado do que foi no passado

Do ponto de vista quantitativo, a desaprovação ao governo do presidente Lula – expressa no agregado de respostas “ruim” e “péssimo” na pergunta sobre avaliação de governo – é praticamente igual à que tinha Jair Bolsonaro nos seus primeiros três meses de governo: 29% no caso do petista e 30% no do ex-presidente. O que parece diferente é o contexto no qual os dois levantamentos foram realizados e o perfil social dos eleitores oposicionistas, num caso e no outro.

Bolsonaro venceu a eleição como outsider e não tinha uma grande questão para resolver. Sua pauta era pulverizada em questões comportamentais. Collor, por exemplo, outro presidente que se elegeu contra o estabilishment, precisava controlar a inflação (com um “ippon”, lembram-se?) e do sucesso da empreitada dependia, em grande medida, a melhora dos seus índices de aprovação. Houve o bloqueio dos recursos em bancos e poupança. A entrevista coletiva da ministra Zélia Cardoso de Mello na qual ela apresentou o Plano Collor deixou o Samba do crioulo doido, do genial Stanislaw Ponte Preta, parecer um tratado de lógica.

A eleição de Bolsonaro foi uma aposta no desconhecido, enquanto a escolha de Lula dessa terceira vez representou o desejo dos eleitores, principalmente daqueles de menor escolaridade e renda, de reviver os tempos de explosão do consumo. E, durante os primeiros três meses de gestão, Lula abriu a caixa de ferramentas e retomou, com o estardalhaço de praxe, os programas que o levaram aos píncaros nas pesquisas de opinião: o Bolsa Família, Mais Médicos (num formato diferente) e Minha Casa Minha Vida.

Bolsonaro, nos seus primeiros três meses de gestão, não passou nem perto de iniciativas dessa envergadura, focando suas ações principalmente nas questões relacionadas à liberação de armas. A pergunta parece pertinente. Evidentemente, é quase impossível que em seus primeiros 90 dias um governo consiga resultados estupendos. Nesse sentido, qual a tendência da população: decepcionar-se mais rápido com quem representa o novo (caso de Bolsonaro) ou com o conhecido (Lula) que, ao invés de trazer a fartura prometida, se esmera na explicação sobre os motivos da escassez?

É inegável que a boa vontade dos meios de comunicação tradicionais com Lula é muito maior do que foi com Bolsonaro. Mas também é verdade que nunca um presidente da República assumiu seu posto com uma rejeição tão alta quanto o presidente petista: dados do Datafolha publicados em 29/10/2022 mostravam 45% de eleitores que não votariam no atual presidente de jeito nenhum. Nesse contexto, convenhamos que esses 29% de desaprovação podem ser até motivo de comemoração.

O que parece diferente, agora, é que o oposicionismo ao presidente parece ser mais visível, intenso e qualificado do que era no passado. Nos seus primeiros dois mandatos, Lula não encontrou oposição digna desse nome. Fez o que quis do jeito que achou melhor, com uso abundante de publicidade de alta qualidade. Agora, encontra na sociedade um contingente de 29% de eleitores resistentes, com melhor nível de escolaridade e renda do que aqueles que se antipatizam com Bolsonaro. Esses antilulistas têm maior capacidade de vocalização e se expressam mais assiduamente. Tudo indica que aquela vida fácil do Lula 1 e Lula 2 é um filme que não vai se repetir.

 

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